Donos de pequenos negócios que acreditaram na promessa do governo federal de ajuda para enfrentar à pandemia estão em desamparo. Eles não conseguem ter acesso a crédito.
Todos os dias parecem iguais num comércio vazio. Só as contas que vencem mostram que o tempo passou. Há 60 dias com faturamento zero, o comerciante da Rua 25 de março faz uma peregrinação diária pelos bancos atrás de uma das linhas especiais de crédito anunciadas pelo governo. Está esperando resposta em três. Um já negou o crédito.
“Por conta de o meu faturamento ter caído muito no mês de março. E a garantia que eu apresentei, que era de um imóvel, ela me disse que não era uma garantia muito líquida para que esse crédito fosse aprovado”, conta o comerciante Paulo do Nascimento.
Pequenos negócios sem acesso às linhas de crédito emergenciais não são exceção. Uma pesquisa recente com micro e pequenas indústrias de São Paulo mostrou que quase nove em cada dez empresários não conseguiram contratar os empréstimos com taxas especiais anunciados logo no início da crise. Com queda brusca de faturamento, a maioria está com contas e pagamento de fornecedores atrasados. Segundo a pesquisa, 15% correm o risco de falir nos próximos 30 dias.
Na academia da Zona Leste de São Paulo, a única movimentação dos últimos dois meses foi o estorno dos cartões dos alunos. Metade cancelou os planos. O negócio de 21 anos, com foco na terceira idade, vai fechar sem ajuda do governo.
“Que garantias eu tenho de como eu vou pagar, entendeu? A gente não sabe aonde vai essa pandemia, essa situação do país, essa situação mundial, a gente não sabe até onde vai. Não existe facilidade para nós e, sim, muitas dificuldades”, lamenta Eloisa Pecegueiro, dona da academia.
Nesses dias que parecem iguais, alguns são mais difíceis, como conta o comerciante de Madureira, no Rio. “Hoje foi um dia muito difícil para a gente, porque a gente teve que mandar embora 16 dos nossos funcionários, pessoas que estão com a gente há oito, dez anos. Por conta da falta do empréstimo governamental, a gente foi obrigada a demitir essas pessoas. A alegação deles é incapacidade de provar financeiramente, claro, as empresas estão paradas há dois meses, eu não tenho receita há dois meses. Então, preciso provar para o governo que meu negócio existe, mas ele existe há 15 anos, há 15 anos que eu contribuo com o governo e ele não pode nos amparar por dois, três meses? Não é possível. Meu negócio vai fechar, meu negócio vai fechar, desculpa ”, conta o comerciante Marcelo Durval.
O secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, admitiu que as linhas de crédito não estão chegando aos pequenos e que a solução do problema é a prioridade número um. Afirmou também que, nesta semana ou na próxima, o governo vai editar uma medida provisória com uma injeção de recursos no fundo garantidor do banco para impulsionar o crédito e diminuir o risco para as instituições financeiras.